segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O Quarto 610-B - Fatos

São Bernardo do Campo.
6:30h.
Frio... muito frio! (que maravilha)
Chegamos ao hospital eu e minha mãe e, após dar entrada em toda documentação, alguns cigarros tragados por força da ansiedade, alguém chamou meu nome. Sozinho, subi seis andares e fiquei internado no quarto 610-B.
Lá conheci diversas pessoas que me ajudaram de muitas maneiras, principalmente a me acalmar e passando a idéia de que tudo aquilo seria como um sonho... logo acabaria e eu estaria deitado em minha cama, no conforto da minha casa e super bem.
Conversei para passar o tempo.
Ouvi música para continuar o sonho.
Chorei para aliviar o medo.
E como chorei.
Era eu ficar sozinho que as lágrimas escorriam e eu tremia. E todos achavam que estava tremendo por causa do frio. Quem me dera.
Me chamaram umas 9:30h para a sala de espera do centro cirúrgico e fiquei lá até umas 11:30h.
Deitado, tomando soro, conheci mais pacientes e funcionários que por ali passavam. Me diverti um pouco com alguns deles e até consegui sorrir. E pedia a todo o momento para irem avisar a minha mãe que o procedimento não havia começado.
E consigo me recordar apenas das duas enfermeiras me conduzindo na maca para a sala de cirurgia - um lugar pequeno, branco, metálico, iluminado e gelado - do anestesista entrando na sala e conversando comigo, dele aplicando uma pequena quantidade de um líquido na sonda do soro, das enfermeiras me ajudando a sentar e eu apertando a mão de uma delas pedindo para não soltar.
Acho que aí que o sonho começou. E foi rápido. Muito rápido.
Horas depois, que para mim foram segundos, eu despertei embriagado com a claridade das luzes e o movimento das paredes dos corredores do hospital. Voltava ao quarto.
Lá dormia e acordava, dormia e acordava. Só dava para fazer isso. Que chato.
A imagem de minha mãe vinha aos meus olhos, mas eu não me lembro muito bem. Só me lembro do som da conversa entre ela e mais algumas pessoas que ali estavam.
A noite ficou silenciosa, pois ninguém poderia ficar no quarto. E eu continuava dormindo e acordando e, algumas vezes, conseguia fumar escondido no banheiro da suíte hospitalar já que não me deixavam descer para fumar lá embaixo.
Na manhã seguinte acordei e fiquei aguardando a entrada do médico no quarto para me dar alta. E felizmente aconteceu rápido.
Minha mãe foi me buscar e voltamos juntos para casa de ônibus.
O sonho definitivamente havia acabado.

O Quarto 610-B - Medos

Foi lá em setembro que fiquei sabendo que após 2 meses teria que entrar em um lugar que não gosto de pisar, que não suporto o cheiro e que não me sinto nenhum pouco bem: um hospital.
Antes era o desejo que a data chegasse o mais rápido possível e todo o pavor acabasse após a aplicação da anestesia. E, no entanto, os dias foram passando e parece que esse pavor cada vez mais aumentava.
É tão difícil explicar o medo das pessoas.
Uns tem medo de baratas.
Outros de gatos.
E outros de morrer.
Eu?
Com toda certeza afirmo que meu maior medo é o de sentir dor. Mas não da dor como sofrimento, aquela que se sente quando um relacionamento acaba ou quando uma pessoa querida "parte".
Me refiro a esta dor:
A dor é mais que uma resposta resultante da integração central de impulsos dos nervos periféricos, ativados por estímulos locais. De fato a dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão real ou potencial, ou descrita em termos de tal.
Por vezes fico pensando nisso e começo a associar este medo a algumas situações e que o medo não é da situação em si em sim se ela me causará dor.
Não tenho medo de cachorros de rua.
Não tenho medo de hospital.
Não tive medo da cirurgia.
Tive medo da dor que a anestesia provocaria. Daquela "picadinha" que todos falam e que para mim poderia ser um tiro de bazuca na coluna (mesmo não sabendo e não querendo saber como seria esta sensação).

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Recheio ou cobertura?

        Estamos acostumados a cobrar o conteúdo das coisas. Talvez em busca de um significado para a nossa vida, cismamos em cavar bem no fundo sem nos contentar o que é exibido na superfície. E isso é bom? Acredito que sim. Mas não é tudo. Mesmo que nem sempre se admita, gostamos de uma aparência cuidada, de um invólucro bem-feito. A aparência atrai, comunica, seduz. É assim até no universo dos sabores. Não adianta investir em ingredientes de primeira linha, descobrir uma receita brilhante, gastar horas na cozinha se o resultado disso tudo não agradar, no ato, aos olhos.
        São eles os primeiros a "sentir" o que vem pela frente. Eles dão o alerta e - mesmo correndo risco de serem preconceituosos - informam ao resto do corpo se vale a pena se perder por aqueles recantos. É claro que faz isso apoiado pelo olfato, que também discerne, julga e tira conclusões. Mas somos seres visuais e é pela visão que os primeiros sabores chegam aos nossos sentidos.
        Com as pessoas ocorre o mesmo. É pelo revestimento externo que primeiro entendemos alguém. Cores, formas, comprimentos, texturas, e excessos informam, em sua grande maioria, humores, crenças, temores e intenções. Julgamos e somos julgados a partir de nossa linguagem visual. É claro, o visual só conta parte da história. Um indivíduo não é só imagem. Mas, para ser bem compreendido, ele precisa reconhecer a importância da estética.
        Tudo bem... ninguém precisa pirar com isso ao sair para comprar pão de manhã cedinho. Nessa hora, dá vontade de nem tirar o pijama, como se fosse possível se esconder do mundo, passar desapercebido. Mas a verdade é que não dá. Mesmo calados e misturados a multidão, somos seres que se comunicam e que interagem com os outros antes mesmo de proferir a frase: "Me dá meia dúzia de pães franceses?".


sábado, 6 de novembro de 2010

Trevos

Para suprir a falta de postagens dos útlimos tempos e combinar com o nascimento de 25 trevos de três folhas no vaso da frente de casa, segue uma pequena frase que encontrei na web:

"Travam-me as palavras que não escrevo no trevo de três folhas"
(autor desconhecido)